Capitulo 1- A primeira vista:
Lembro-me de muitas coisas de minha vida, porém as mais importantes aconteceram nos últimos tempos, coisas com quais aprendi muito, venci batalhas... Derrotei inimigos.
Vou me empenhar em contar-lhes minha historia... Meu nome é Alera, tenho 1,74 de altura, longos cabelos negros e lisos e pele pálida devida minha natureza. Sou um tanto magra... Talvez até muito. Nasci em 1802 em Paris, mas cresci em San Francisco nos Estados Unidos. Tenho 26 anos... Mais ou menos... O que quero dizer é que... Na verdade minha idade física é 26, mas sou muito mais velha que isso, tenho 208 anos. Sou uma vampira. Sou imortal. Mais ou menos. A luz do sol, uma intensa perda de sangue ou o fogo podem me matar.
O mais importante de minha historia na verdade começa em 1828,quando fui transformada por meu noivo Laurence, um poderoso vampiro francês, por quem me apaixonei quando ainda era uma simples mortal. Mas vou contar-lhes um pouco antes disso...
Eu o vi pela primeira vez em numa taverna em San Francisco, o lugar estava praticamente vazio, só havia eu, ele e um empregado. Ele usava um longo casaco de veludo, de cor azul marinho, com detalhes em ouro, do qual por cima pendiam longos cachos de seus cabelos negros... Ah aqueles cabelos... Tão sedosos e brilhantes que nem pareciam reais. E os olhos dele... Deus, aqueles olhos me encantaram... Pareciam ser feitos de pedras preciosas... Eram como lindos diamantes de tom azul claro... É difícil explicar, são simplesmente lindos. Ainda hoje me encanto cada vez que fito aqueles olhos. Eles me hipnotizam. E sua pele aparentava ser sedosa, no entanto era pálida... Tão pálida. Mas quão macia parecia ser. Ah, Laurence meu querido... Apaixonei-me na primeira vez em que o vi.
Ele estava sentado sozinho em um banco em um canto da taverna. Lembro-me como se tivesse acontecido ontem. Ele fitou-me por alguns segundos, deu um pequeno sorriso e depois desviou o olhar. Mas algo me dizia que ele ainda me observava. Fui até o balcão e pedi uma pequena dose de vinho,ele se levantou,sentou-se ao meu lado, deu um sorriso malicioso, e disse suavemente:
- Por minha conta, Mademoiselle. Eu não poderia deixar que uma madame tão nobre pagasse tal bebida.
Fiquei surpresa ao ver a reação dele. E me espantei no momento em que ele me chamou de “madame nobre”, afinal uma moça como eu, não poderia nunca ser chamada de madame, eu era uma das poucas filhas ainda vivas de um homem que trabalhava para o marquês. Eu não era absolutamente nada, e ele... Ah ele parecia um “príncipe”. Ele aparentava ser imensamente rico e educado. Uma moça como eu, deveria se sentir envergonhada, de apenas se imaginar ao lado de um rapaz tão sofisticado. E então percebi que talvez o “madame” não fosse um elogio, talvez ele estivesse zombando de mim.
Naquele exato instante em que pensei isso, ele passou suavemente os dedos na parte superior de minha mão e disse educadamente:
- Jamais zombaria de ti, Ma Chére.
Parecia que ele havia lido meus pensamentos. E o modo com que ele pronunciou as ultimas palavras, carregando naquele sedutor sotaque francês, me deixou ainda mais apaixonada. Agora eu havia percebido que deveria responder para que não soasse arrogante:
- Obrigada, Monsieur, mas creio que não será necessário.
- Ora, ora... Ma Chére... Por favor... Eu insisto.
- Tudo bem então... Obrigada Monsieur.
- Ótimo... Obrigado por me conceder essa honra, Chérie. Chamo-me Laurence de Lenfent... É um imenso prazer conhecê-la Mademoiselle. - Ao dizer isso ele educadamente pegou minha mão e beijou-a.
- Igualmente, Monsieur, meu nome é Alera de Vallois.
Ficamos calados por alguns minutos, percebi que ele me olhava e encabulada, apenas sorri. Ele sorriu também. Encantei-me novamente... Que sorriso lindo... Mas havia algo de estranho naquele sorriso... Eu não conseguia detectar o que era, mas... Havia algo errado... Diferente... Decidi não pensar nisso. Ele era lindo demais pra que eu me preocupasse com algo tão banal.
Um rapaz me trouxe o vinho, e em seguida foi pago por Laurence.
- Saboreie cada gota do vinho, Ma Chére. É melhor quando saboreamos com cuidado.
“Ma Chére”... Eu não ouvia tais palavras desde que me mudei da França. Só havia ouvido aquelas palavras de um homem: meu pai. E honestamente, soava muito melhor vindo de Laurence. Ele era maravilhoso. Lindo. Fiz o que ele dissera, e realmente o vinho era muito melhor quando bem saboreado. Ele fitava-me e eu também não conseguia parar de olhá-lo. Tão encantador. Meus dedos formigavam de desejo de tocá-lo. Tocar aquela pele... Sentir sua maciez... Tocar aqueles lábios... Era incondicional o modo com que eu o desejava.
Coloquei a taça no balcão, ele sorriu pra mim. Lentamente tocou meu rosto com a mão esquerda, deslizou o polegar por meus lábios, fechou os olhos como de satisfação, e me percebi fazendo o mesmo. Murmurou algo como “perfeição”. Vagarosamente tentou tirar a mão de meu rosto, mas voltou a me tocar, como se houvesse um imã que nos unisse. Passou a mão em meus olhos delicadamente... Incrível que o que é bom sempre dura pouco... Ele deu um longo suspiro, colocou a mão sobre o balcão e desviou o olhar para longe. Assim como talvez o pensamento.
Pude perceber em sua face o que parecia ser sofrimento.
Ele me olhou apreensivo e disse:
- Infelizmente agora tenho que voltar para casa, minha querida. - levantou-se, delicadamente pegou minha mão e beijou-a novamente. - foi um prazer conhecê-la, Mademoiselle, - deslizou uma das mãos por meus cabelos, beijou minha testa e por um momento fechou os olhos.
- Igualmente Monsieur, foi um prazer.
Ele saiu devagar... Seu modo de andar era tão perfeito. Virou-se para trás, olhou para mim, deu um sorriso e logo após desapareceu no meio da multidão que agora ocupava todo o espaço da taverna. Eu nem havia percebido o quão cheio o lugar havia ficado. Eu depositara toda a minha atenção nele. Tão perfeito.
Capitulo 2
A dor da ausência
O sentimento de felicidade havia passado. A sensação de segurança que eu senti quando ele estava com a mão em meu rosto... Havia desaparecido. Agora eu me sentia sozinha... Perdida... Infeliz... Resolvi ir pra casa. Ao me levantar senti uma vertigem... Senti meu corpo gelado, percebi que estava tremendo, quase como se fosse desmaiar, mas consegui me apoiar no balcão. Eu senti que lagrimas caiam de meus olhos, não entendi perfeitamente o motivo, mas entendi que se Laurence estivesse ali, isso não aconteceria, somente a presença dele já me alegrava. Fazia eu me sentir segura... Talvez segura de mim mesma.
Fiquei alguns minutos ali em pé, olhando para o nada até me recuperar, e então fui andando em direção á porta, passei apertada no meio da multidão... Aquela taverna nunca havia estado tão cheia ou talvez eu nunca tivesse percebido... As pessoas todas se empurravam, tentando conseguir algum espaço para se mexer... A porta estava aberta, sai rápido e fechei-a. Lá fora estava frio... Minhas mãos congelavam... A rua estava deserta por ser noite, fui andando até em casa... No caminho lembrei-me de Laurence... Do toque suave de sua mão em meus lábios... Sua pele macia... E quente como fogo, o que também era estranho, era impossível a pele de alguém chegar a tal temperatura, mas ignorei o fato. Em casa meu pai e minhas irmãs já dormiam... Entrei quieta, bebi um pouco de água e fui me deitar.
Deitada em minha cama, não consegui deixar de pensar nele... Lembrei de seu olhar... De seu sorriso... Seu jeito suave e carinhoso de falar... Oh! Deus aquele sotaque... Aquela voz calma... Doce... Suavemente rouca... MISTERIOSA.
Eu queria chorar.
Eu o queria ali comigo. Queria sentir novamente seu toque. Queria ouvir sua voz. Eu o queria. Eu o amava.
Senti-me tola... Ou louca, pois eu o havia conhecido há cerca de meia hora, e já chorava por sua ausência. Mas o modo com que eu o desejava era... Incalculável.
Eu queria ouvi-lo me chamar de Chérie novamente. Queria tocá-lo. Abraçá-lo.
Mas agora o que eu realmente sentia era medo... Medo de talvez não vê-lo outra vez. Nunca mais ouvir sua voz, nem sentir seu toque, ver seu rosto... Ou aqueles lindos olhos. Eu tinha tanto medo. Definitivamente eu o amava.
Comecei a chorar. Imaginei-o ali ao meu lado. Afagando meus cabelos e dizendo "Não chore Chérie. Estou aqui. Acalme-se, eu a amo Ma Chére”. O sono tomou conta de mim e as lagrimas cessaram. Mas não a angustia. A dor. Oh! Laurence, como eu o amo.
Tive impressão de sentir suas mãos em meus cabelos, com os olhos semicerrados tive a impressão de vê-lo a meu lado. Tive vontade de dizer "ah! Meu querido que bom que está aqui”. Mas meus olhos já se fechavam, e eu já caía num sono profundo.