Eu geralmente tenho tendência de ir para o humor ao menos em parte com os meus comentários dos livros, mas é um pouco mais difícil de fazer isso em Blood Communion. Não que o livro não tenha momentos engraçados (porque tem) e momentos tão absurdos que chegam a ser engraçados (porque tem isso também), mas em geral o livro tem um tom muito sério e frio, e é realmente difícil de ignorar isso.
Acho que Blood Communion tem muitos problemas estruturais. O plot demora muito para começar; o sequestro da Gabs/Louis/Marius parece acontecer muito tarde, e a resolução muito rápida - a morte do Rhoshamandes acontece muito repentinamente e muito longe do final, e dá a impressão que os outros capítulos se arrastam para o fim. Achei bastante previsível que nenhum dos três estivesse realmente morto, porque a Anne não é tímida em matar personagens principais, mas o Louis e a Gabrielle são os maiores amores do Lestat, e eu tenho dificuldade em ver ela matando eles de uma forma permanente quando isso teria um efeito tão grande e traumático e /permanente/ no Lestat.
Me parece bastante estúpido da parte do Rhoshamandes também não ter matado permanentemente ao menos UM deles, pra mostrar que as intenções dele eram sérias. Embora o Rhoshamandes tenha tido seus momentos como personagem, eu acho que em geral eu não senti nenhuma grande ameaça vinda dele nesse livro, e como ele era para ser o maior antagonista... #fail
Nas partes que eu gosto, posso dizer que gosto que no começo o Lestat esteja questionando sua autoridade e sua posição como líder nessa corte. Gosto que ele questione - é só a aceitação tão rápida dele que me incomoda.
Falando na corte, podemos mencionar outro dos problemas estruturais - 87876 personagens diferentes em cada cena. Um dos principais problemas de Prince Lestat e Prince Lestat and The Realms of Atlantis para mim é que tinha muito, MUITO personagem narrador e a maioria deses personagens era novo e não era extraordinário o suficiente para se destacar para mim. Poucos personagens dos livros anteriores deixaram alguma impressão em mim - talvez a Rose apesar da chatice, o Fareed que acho um dos mais interessantes do novo grupo, Benedict e Rhoshamandes e do livro dos aliens, a Kapetria. Mas tem tantos personagens, tantos, que é difícil se lembrar até quem é quem nesses novos livros.
Agora Blood Communion - Blood Communion tem só o Lestat de narrador. Achei que poderia ser uma mudança positiva e que evitaria essa atenção dispersada que os novos livros nos submetem, mas é bem pelo contrário. Apesar de ser só o Lestat narrando, a Anne parece fazer um esforço para incluir todos esses inúmeros personagens o máximo possível, e o resultado disso é uma entediante superficialidade. È sempre um risco ter personagens demais em uma cena com um único POV pro causa disso - na pressa de tentar dar atenção a todos, nenhum acaba ganhando atenção nenhuma e o resultado acaba sendo que todo mundo parece ordinário e superficial, e infelizmente é o caso de Blood Communion para mim.
Agora sobre a corte. Acho que o que mais me incomoda neses novos livros, sinceramente, é a própria existência dessa corte. Eu não gosto dela, eu realmente não gosto do conceito então é difícil engolir. Eu sempre achei melhor ou preferível os vampiros serem isolados cada um com seu núcleo ou família, ou companhias mais constantes, como predadores (semi)solitários, e a ideia da corte rompe totalmente com esse conceito, especialmente do modo como é feito. Eu não gosto da autoridade com ares de monarquia que está sendo imposta aqui, onde na superfície tem ares de 'só participa quem quer', quando na verdade não me parece ser nem um pouco assim.
Não gosto em especial da brutalidade (e rapidez!) que as execuções a vampiros que 'transgrediram' alguma coisa está acontecendo. As vítimas humanas sendo mantidas nas masmorras também foi algo que eu particularmente não gostei nada - não porque estou tentando impor uma moralidade em particular para os vampiros, afinal eles são assassinos brutais e é parte do que você aceita quando você lê ficção de vampiros, e estou acostumada a ver eles fazendo coisas brutais, e jogos mentais com humanos não é algo novo. Mas acho que tem uma diferença bem grande entre as vítimas caçadas no mundo conforme a necessidade vem e entre manter uma série de pessoas por dias, semanas, sabe-se lá quanto tempo aprisionadas para serem escolhidas conforme convir. Acho frustrante que o Lestat a princípio parecia bem contra a ideia e depois tacou o foda-se. Achei toda a ideia bem horrenda, pra ser sincera.
A única voz que eu vi dizer alguma coisa que eu concordo a respeito dessa corte é o Armand, para minha total surpresa, nesse momento aqui:
Por mais que a corte seja exaltada como algo toootalmente novo e bom e legal, as minhas impressões não são essas. Me parece algo muito sinistro disfarçado de algo aceitável e ideal para os vampiros, mas todas essas regras e julgamentos e execuções brutais me incomodam bastante. Eu sinceramente prefiro os vampiros como algo fragmentado e não com uma sociedade cheia de regras impostas.
No comecinho desse comentário, eu citei a frieza do livro, então vou comentar um pouco sobre isso. Acho a narrativa do Lestat muito fria, distante e indiferente nesse livro. O Lestat é um personagem que pode ser frio e distante de tempos em tempos, mas ele sempre teve uma paixão e uma rebeldia que eu considero um dos atributos mais cativantes dele como personagem, e é triste ver isso tão ausente nesse livro, como uma chama apagada. Achei a narrativa dele muito fria e distante, muito ausente e passiva. Apesar de muitas palavras de amor e devoção por vários personagens diferentes serem ditas, muito pouco disso soa verdadeiro ou profundo o suiciente, e acaba só sendo frustrante para mim como leitora.
O Lestat nunca foi um vampiro cheio de remorsos e com tanta dificuldade em conciliar sua nova natureza do modo com o Louis é, mas ele sempre foi um personagem muito complexo e com muitas facetas. Mesmo enquanto via humanos como presas, ele ainda era fascinado por muito e pela própria natureza humana, e esse é um aspecto 100% ausente nesse livro onde o foco dele é apenas e apenas os vampiros, o tempo todo. Fazer isso faz com que ele perca uma porção significativa da complexidade dele como personagem para mim.
Acho frustrante e também um bocado triste, na verdade. Como eu disse sempre vi o Lestat como um personagem rebelde e desafiador, que quebrava as regras, e ver ele no papel desses livros realmente me parece como ver ele se tornar tudo aquilo que ele mais desprezou.
Não gosto muito também do papel da Gabrielle nesse livro, o que me entristece também. É um dos livros onde ela mais aparece, mas ela demonstra bem pouco da personalidade forte dela, e queria que tivesse mais
Pra não ser só negativa, citando dois pontos que gostei, haha!
1. Nunca pensei que diria isso, mas o Armand é 100% meu personagem favorito durante esse livro. Ele é o único que me parece genuíno com o que conheemos da personalidade dele, e o único que parece fazer algum sentido para mim. Minha cena favorita no livro é a confrontação entre ele e o Lestat, onde o Armand joga na cara do Lestat todo o amor, o ódio, o ressentimento que ele sente por ele na cara dele do jeito mais venenoso possível. É uma cena brutal mas ótima, surpreendente para mim o Armand admitir amar o Lestat mais que o Marius e o Louis (ainda que em uma conversa com uma amiga a gente tenha especulado que o Armand talvez deposite todo esse amor no Lestat por saber que ele nunca vai corresponder na mesma moeda e portanto é uma alternativa "segura" e pouco arriscada de amar alguém), mas foi executada de um ótimo jeito. Armand em geral nesse livro me cativa bastante, e a única coisa que eu não gosto é que parece que ele voltou para o Marius no final :~~ ele não tava com o Daniel em PLROA?
Aliás cadê o Daniel né, lol ele não é nem sequer MENCIONADO nesse livro. Achei isso muito wtf considerando que o Armand terminou PLROA vivendo com ele.
2. Sou previsível e toda e qualquer cena romântica do Lestat e do Louis já é um bônus para mim, apesar de eu não gostar particularmente de como a Anne escreveu L/L nesse livro. Mas em especial gosto dessa cena:
"Of course Louis released Rose and then he bowed just as if he were at a ball in old New Orleans after the opera. I came up beside him and took his hand.
“What are you doing?” he asked.
“Dancing with you,” I said. I turned him easily this way and that to the music. I could see he found this immediately awkward, to be dancing with me as a woman might dance with a man, and then something playful and vibrant came into his eyes. He gave himself up to it. I turned us around fast twice and then three times, and we broke the pattern and then my arm slipped around his waist and I danced beside him, in step with him, like the Greek men do it. “Do you like this better?” I asked.
“I don’t know,” he said. He appeared brimming with happiness. But I was the one truly brimming with happiness. The music seemed to move us as if we were powerless, borne along exquisitely, and then we faced each other again and we were simply dancing in a loose, comfortable embrace, intimate, making one body and then two bodies, and one body again. All around us were dancers, dancers pressing in so that at last we were dancing without really moving our feet. But what did it matter? One can dance that way. One can dance a thousand ways."
Nawww eu sou fraca por cenas de dança