Michael estava dirigindo seu Impala preto 67, que ganhara de Dean em uma aposta há três anos. No seu relógio de pulso marcavam 2 e 35 da manhã e ele estava voltando de uma reunião secreta com outros membros da turma que ficaram falando um monte de baboseiras a noite toda.

Estava a 10 minutos da mansão onde revisaria a segurança antes de ir para sua casa. O que era tarde demais. Seu celular tinha tocado, viu que era Gabs e resolveu atender.

- Senhora Stella

- E Cumberbatch, esta bem? Não aconteceu nada com ele?

- Ótimo, estarei ao lado dele em 10min.

- Até mais ver.

Fazendo um gesto negativo com a cabeça, pensou consigo mesmo, que dessa vez o caso foi serio.

Ao chegar à mansão viu que todos estavam dormindo, mas não em um sono comum, era como se todos eles estivessem em coma.

Entrou as pressas e Jaja sentado calmamente numa poltrona da sala principal. Seu semblante parecia preocupado.

Os olhos de Michael ficaram laranjas. Estava analisando Jaja para ver se ele estava machucado fisicamente, mas só seu emocional mostrava-se bem abalado.

- Senhor Cumberbatch fique calmo. O senhor já está em segurança. Agora vamos esperar os outros chegarem para discutirmos melhor o que aconteceu.

Seus olhos voltaram ao normal e Jaja sorriu.

Erin sabia sobre aquilo que se encontrava na Jaula. Foi uma descoberta que fez por acaso enquanto trabalhava nos arquivos da Talamasca, mexendo em pastas que não deveria e conversando sobre assuntos sobre os quais não deveria. Apesar de não fazer parte da sua área de atuação na Ordem (era um assunto de extremo sigilo e periculosidade), sentiu enorme interesse pelo caso e conseguiu "convencer" seus superiores a mantê-la informada sobre as novas descobertas ou o que quer que viesse a acontecer que tivesse qualquer ligação com a biblioteca privada nos subterrâneos da sede de Londres.


Às 5h da manhã em Amsterdam, Erin encontrava-se dormindo em seu quarto na parte sul da mansão da Ordem quando recebeu uma ligação de Stella. Não esperava receber um telefonema direto de Londres, e foi com enorme empolgação por ter se envolvido no caso mais do que imaginava que conseguiria que Erin arrumou sua mala, deixou um bilhete para seus supervisores e pegou um táxi até o aeroporto.

A Selva devia ser selvagem. E o selvagem devia ser assustador, alheio, diferente. E muito mais diferente para ela. Úmida, quente, e perturbadora. Verde, marrom, azul claro, rio escuro. Destoa do branco. O branco de onde veio. Tão árido e infértil quanto qualquer deserto que tinha visto depois. Ainda que filha da terra gelada, são um povo quente. Supersticioso. Religioso. E corajoso. O povo da mãe Rússia.

Ainda que assim, a selva amazônica lhe era confortável. Ao menos era natural, livre e em paz. Vivia naquela choupana indígena, com muito prazer. Estava livre. Sem fortes obrigações com o mundo cotidiano. Estudava, via coisas, como sempre viu. As enxergava. Diferente de boa parte das pessoas, que continua cega as belezas e tristezas da vida. Via a miséria, a desigualdade e o sofrimento nas cidades, quando ia as cidades. Mas também via a alegria da vivência selvagem, dos animais descompromissados com tudo, só não consigo mesmos.

Com tanta liberdade as vezes podia esquecer seus deveres, mas não. Eram espirituais. Consigo mesma e com as pessoas a quem tinha prometido.

Agora precisava de flechas. Precisava caçar. E se proteger.

Talamasca na Venezuela. Sempre parecia tão estranho os contatos mais ao sul, mais ao extremo. Sempre lhe pareciam deslocados. Sempre tão intelectuais de gabinete. Talvez fosse por isso que gostasse tanto dele. Por ter sentindo durante anos que odiava todas aquelas responsabilidades burocráticas, do que gostava de verdade era de se perder na natureza selvagem e no poder natural.

Então o telefone tocou. Havia um quarto alugado. Não podia deixar os arquivos, aparelhos tecnológicos, livros, roupas e flechas serem estragados pelas condições adversas da mata.
- Kolesnik. Sim Sofia Kolesnik. E porque eu deveria voltar?
- Ah, porque ele assim determina. Seus designos e determinações... Não importam muito pra mim. Mas porque ele assim exige?
- Como é? O que foi? Ah... Achei que os britânicos fossem competentes em guardar seus pertences. Guardaram a Grã-Bretanha com tanto afinco durante a Segunda-Guerra... Ah, claro, nós que a vencemos... Pois diga que volto.
- Agora mesmo. E bem, diga que mando lembranças e se ele perguntar pode dizer que continuo intragável e no entanto amável.

Então teria de voltar. Não que fosse uma lástima. Também gostava de gente. Pessoas como ela. E era hora de voltar. Esquecer que ele se fora e nunca mais voltaria pra ela. Que eles agora faziam parte do mundo que só podia ser visto de fora. O dos mortos.

Era hora de descobrir que tipo de ser invade um cofre de segurança do Talamasca em plena Casa Matriz em Londres, desvia fundos e dá sumiço em documentos de registro de viagem. Sua suspeita recaia sobre o pior tipo de ser que conhecia.... Gente. Pessoa. Seres humanos. E talvez, somente talvez, em uma hipótese longe, seus amigos inumanos. E também estava curiosa a saber quem teria a coragem pra tirar de dentro de seu próprio cofre pessoal, seu diário sobre a observação proibida dos vampiros. Chantagista? Talvez, talvez fosse. Como se ser desligada da Ordem lhe causasse medo. Que viessem. Medo nunca foi dela. E arriscar é apostar na vitória.

Caracas – Brasília – Londres.

Já era quase meio e dia e Michael ainda não tinham dormido, estava de plantão na mansão e só sairia de lá com ordens de Jaja. O que não tardou muito a acontecer.

Sentado em uma poltrona ao lado de Jaja os dois fumavam seus cachimbos
preocupadamente e tentavam deduzir quem ou o que teria feito isso.

Foram interrompidos por Gabs que falou diretamente com Michael.

- Vá pegar Foxy no aeroporto Heathrow. Traga ela para cá o mais rápido possível e com segurança.

-Sim senhora.

-O vôo chega em uma hora. Não se atrase ela não gosta.

-Sim senhora. Já estou indo.

Michael praticamente só seguia ordens deles dois, mas quem dava as ordens a ele era principalmente Gabs. Eela sempre o enchia de missões para todas as partes da Grã Britânica.

Dirigiu o mais rápido que pode. Quando chegou ao portão de desembarque Foxy tinha acabado de aparecer.

- Bela como sempre, selvagem Foxy.

A outra se limitou a rir e seguiu para o carro.

Sem muitos assuntos ele a levou para mansão ao encontro de Jaja.

Ela ouviu a porta bater atrás de si. Apanhou sua mala, pôs a mochila nas costas e trazia o arco na mão esquerda.

- Porque ainda usa essa coisa? Não parece muito prático. - Ele disse.
- É silencioso, preciso e elegante. Não vou sujar minhas mãos, a menos que realmente importe. - Respondeu.
- Agora importa? - Quis saber.
- Sem dúvida que sim. - Lhe agradou a resposta.
- É bom ter mais um arco, uma mente e belos poderes a serviço da Ordem.

A Casa parecia não ter mudado nada, exceto pelos rostos preocupados, como em todos os momentos de crise e de novos rostos. Eles provavelmente deviam ter chamado o melhor do que tinham de melhor. “ Então ainda sou necessária. Ao menos ainda não me atiraram aos vampiros. “

Passou em seu quarto apenas para deixar seus pertences e verificar algumas coisas.

O encontrou sentado em meio a um monte de papéis em seu escritório. Havia uma jovem no ambiente também. Deveria ser a mulher que ligara mais cedo.

- Voltou da selva então... Achei que seria um pouco mais difícil te tirar da Venezuela. Está mais flexível?
- Vim porque sabemos muito bem o que estava lá, e também porque não é a única coisa estranha acontecendo. Você sabe disso, não sabe? Arquivos, e um furto muito pessoal.
- Depois de centenas de anos de tranqüilidade o último parece que tudo de ilegal, irracional e destrutivo resolveu acontecer nessa Ordem...

Luc, acendeu um cigarro e decidiu entrar na sala do Superior Geral, a principio nao tinha o menor interesse naquele caso, até seu amigo Miles dizer que tinha algo a ver com seu passado e com o caso de David um dos antigos superiores.
Ao entrar a atenção das pessoas se voltou para o garoto de olhos com cores diferentes:
- Bom dia senhor superior, bom dia Gabs, você deve ser a Encantadora Sofia e o habilidoso Michael correto? Todos estao aqui para ajudar a encontrar o que foi roubado certo?
Jaja não gostava muito daquele jeito intrometido do garoto, aparecendo atrasado e mostrando que já tinha um conhecimento sobre a situação:
- Bom dia? Tem ideia de que horas são?
- Quem é esse Jaja? - Perguntou Michael.
- É o rapaz responsável pela nossas bibliotecas, se existe alguém que saiba como a Jaula pode ter sido invadida é ele.
Luc deu mais uma olhada ao redor, as pessoas pareciam tensas, e ao olhar seus rostos percebeu que tinha mais uma presença na sala, era Erin! Haha ela não tinha a minima ideia de quem ele era mas ele a conhecia muito bem, ja lera muitos artigos por ela escritos e ao ler um texto de alguém ele descobria muitas coisas sobre as pessoas...
- Ai que esta pessoal, eu não tenho a minima ideia de como isso pode ter acontecido... Tenho algumas teorias mas ia precisar de alguém muito habilidoso e alguma ajuda interna, o que me leva a não querer discutir esse assunto com todos, porem devido as circunstancias terei que assumir a hipótese de que todos são confiaveis....
Luc acendeu outro cigarro e procurou um papel em sua mochila, enquanto Sofia dizia algo, que ele nao conseguiu intender, a Jaja. Então desenrolou o papel sobre a mesa, era um mapa da biblioteca e da unica passagem que levava a Jaula
- Aqui é onde o invasor teria que passar e estreito e não é possível entrar sem ser visto, a passagem dispõe de alarmes e seguranças muito bem treinados, não seria nada fácil passar por eles, as primeiras coisas que me ocorreram foi o Lapso de memoria deles,a maioria das pessoas aqui da Matriz vão ter o mesmo Lapso, ao vir pra cá eu dei uma olhada nas pessoas que estavam dormindo, e uma especie de Hipnose, se propaga de diversas formas, tanto pelo som quanto pelo ar, os que melhor dominam os poderes telepáticos não devem ter percebido, é uma coisa sutil de mais, porem fiquei me perguntando...o s seguranças também deveriam ser ter a telecinese e a telepatia bem treinadas, ai esta minha primeira pergunta sem resposta... Estou trabalhando em uma teoria mas vou depender da boa vontade de Miles, e sair da matriz despercebido também seria algo bem complicado, mas não impossível.
Ele parou de falar para bater as cinzas do cigarro no cinzeiro, percebeu que todos estavam bem atentos no mapa provavelmente imaginando a cena, era o que ele tinha feito quando soube do roubo, então voltou a falar:
- Minha conclusão, e um trabalho muito complicado e impossível de fazer sozinho, acreditem eu já passei muitas horas pensando em como invadir aquela jaula e simplesmente não achei a resposta de como faria isso sozinho, mas por favor não desconfiem de mim, eu só tinha certo interesse naquilo que estava guardado, nunca faria algo pra prejudicar a ordem.
Michael parecia um pouco alarmado, e Sofia.... bem ela parecia interessada naquela conversa, Jaja olhava com certa preocupação e um pouco de animo, ate que Erin foi a primeira a se pronunciar:
- Tem mais alguma coisa que a gente vai precisar saber? Já percebi, como todos, que você não esta sozinho e isso nem um pouco me agrada...
Luc ficou um pouco surpreso, era a primeira vez que ouvia a voz dela...
- Haha, ai depende de vocês, eu vou ficar bolando minhas teorias com os que tiverem dispostos a me ajudar, e acredite posso ser mais útil do que pensa, qualquer arquivo que precisem da biblioteca eu posso falar em oratória agora mesmo, e se é Miles que te preocupa, relaxa logo logo ele acha alguma coisa, mais interessante pra fazer....
Alguns segundos se passaram em silencio ate que a risada de Michael cortou a sala:
- Hahahahaha tudo bem, acho que todos aqui estão ansiosos por um desafio... Então devemos começar isso logo certo?
Luc gostou do animo do rapaz, Erin ainda parecia um pouco desconfortável, Jaja olhava para a lareira e Sofia encarava o Mapa em cima da mesa:
- Sim, mas creio que seria mais educado esperar todos chegarem... O que deve acontecer em breve segundo Miles...- respondeu Luc sorrindo, encarando todos com seus olhos de diferentes tonalidades...

Sofia não gostava nada da petulância daquele jovem. Parecia muito informado, parecia muito seguro de tudo. Era suspeito. Mas ao que parecia só esse roubo estava importando para os demais membros. E bem, não valia a pena sair expondo as informações a que tiver acesso. Saiu da sala acompanhada de Amélia. A única amiga que sobrara depois de todos aqueles anos. A ela poderia contar, sabia que entenderia.

- Diga, o que precisa falar comigo?
- Primeiro me certificar de que você está bem. Está bem? O trabalho que estava fazendo pra Ordem na selva era muito importante, como deixou seus subordinados? E Foxy... você não tem nada a ver com isso, tem?
- Você me insulta ao perguntar isso! Sou sim um tanto impetuosa e pouco me importo com regras mas eu fiz juramentos Amélia.
- Os mesmo que diziam pra não se aproximar de criaturas sobrenaturais sem autorização?
- Não.... não eram criaturas sobrenaturais, era.... David. Você sabe o que sinto por ele, tudo que devo a ele. E meus subordinados estão muito bem. Os deixei muito ocupados transcrevendo meus relatórios que vão ser enviados para você.
- Agora é você que parece estar precisando falar comigo...
- Eu não queria falar na frente de todas aquelas pessoas, sabe como sou superficial e profunda. Bem, na última vez que estive em Londres falei com Yuri. Ele me disse que estava conferindo alguns arquivos financeiros e registros de viagem dos membros da Ordem, os débitos e contas estavam lá, mas os motivos para as tais não. Nem a quem pertenciam as contas. E a algumas semanas meu celular tocou, avisando que alguém havia aberto o cofre do meu quarto.
- O seu diário não estava lá? Aquele maldito diário onde você escreveu sobre os seus contatos com o maldito Vampiro Armand? E onde fica escrevendo seus devaneios com David?! Que irresponsabilidade Sofia! Você é minha melhor amiga, e também estava sob a minha responsabilidade. Não devia ter feito isso. Vão chegar até nós. E talvez sejamos advertidas.
- Não tenho medo!

Estavam tão envolvidas na conversa que não ouviram, nem sentiram a presença dele.

- Quando iam me contar sobre esses outros...eventos? - Cumberbatch estava calmo, mas curioso.

Mas Sofia não tinha medo de ninguém. Apenas olhou para ele;

- Quando aqueles juniores saíssem da sala. Não falo da minha vida, nem dou minhas informações assim, para todos, para qualquer um. Para ter acesso a mim, preciso confiar em alguém. Confio em você. Em você....

Já passava da uma hora da tarde quando cheguei à casa matriz...
Pedi para um dos empregados levar minhas malas até meu quarto, e fui ao encontro dos outros na sala de Jaja...
Quando cheguei à porta vi Jaja e duas mulheres muito bonitas conversando no corredor... Apresentei-me educadamente para elas e cumprimentei Jaja...
Eu: Bem, estou vendo que vocês estão em um assunto... Importante... Vou esperar dentro da sala, se não se importa Jaja...
Jaja: Acredito que você já esteja mesmo a par da situação... Entre... Os outros irão lhe informar o que foi conversado até agora...
Assenti e entrei na sala...

Reconheci a Gabs, é claro, e Luc, pois eu passava horas na biblioteca quando não estava viajando... Apesar do pouco contato, também reconheci o Michael... havia outra mulher na sala... Pelos cabelos ruivos imaginei que fosse Erin Peer... Luc já havia me falado tanto sobre ela, que era impossível não reconhecê-la... Rapidamente me apresentei por telepatia, não tínhamos tempo para esse tipo de coisa agora...
Eu: Desculpem-me pela demora... Foi uma viagem turbulenta... Já estou a par da situação, mas me contem o que perdi...
Depois de um resumo de toda a história, mil coisas passavam pela minha cabeça...
Michael: Bem, como Jaja disse, dessa vez nós iremos agir...
Eu: Entendo...
Olhei para os outros e percebi neles a mesma excitação que eu sentia... Seria perigoso, sim... Mas seria uma experiência realmente incrível...
Eu: Muito bem, e qual é o plano?

Olhando aquele grupo na sala, a maioria tão cheia de si e confiante, fez com que Erin hesitasse um pouco. Estaria ela no lugar certo? Sim, é claro que estava, Jaja não a teria chamado se não achasse que valesse a pena.

Amélia e Sofia haviam saído da sala, seguidas logo depois por Jaja. Erin olhava para Luc com certa curiosidade, parecia que ele já a conhecia. Decidiu falar com ele. Ele falou sobre os artigos dela que havia lido. Oh, aqueles artigos, pensou, artigos sobre as pesquisas que havia realizado antes mesmo de entrar para a Talamasca. Foram então interrompidos pela chegada de Ashelia. Fizeram uma breve apresentação.

Ashelia: Muito bem, e qual é o plano?
Michael: Não temos um plano ainda. Estamos apenas esperando os três lá fora voltarem para começamos a arquitetar algo.
Erin: Estamos esperando mais alguém ou já estão todos aqui?
Stella: Estão todos aqui, o que não impede que chamemos mais alguém, caso seja necessário.

Jaja, Amélia e Sofia entraram.

Erin não pode deixar de perguntar:
- Estou curiosa para saber. Vocês acham que quem fez isso foram seres humanos ou foi algo mais... sobrenatural?

Amélia aguardava a jovem Erin falar.

Foxy, tenho uma coisa a lhe dizer. Seja lá o que for que estiver fazendo isso, planejou nos reunir aqui. Não podemos ficar nesta sala por muito tempo conversando feito adolescentes. Eu recebi um aviso lá fora.

Bom, então faça o que acha que deve, mas se quer meu conselho, fique aqui mais uns minutos e vamos ver o que essa moça tem a falar. Presumo que você saiba sobre ela mais do que eu, mas Cumberbatch não a chamou aqui à toa.

Tudo bem, mas após isso, não farei mais delongas. Vou descer aos andares inferiores. Se quiser, venha comigo.

Telepatia tinha lá suas vantagens quando não se quer falar na frente de tantas pessoas.

Luc estava impaciente, queria muito ouvir a doce voz de Erin novamente mas também queria ir para sua amada Biblioteca, ai estava uma hora perfeita para sua habilidade que mais o agradava, o seu olho falso (seria o direito? ou seria o esquerdo?) é o olho que pertenceu a Miles, ele ficou sabendo disso por Jaja ao contar pra ele 5 anos atrás sobre o fantasma que o acompanhava, se tratou de uma cirurgia pra mesmo o olho falso enxergar, mas nunca tinham pensado na Hipótese do espirito voltar a seguir o olho, mas foi o que aconteceu, e isso tinha concedido uma nova habilidade ao garoto, ele conseguia compartilhar a visão do Espirito de Miles
"Ei cara, pode descer lá embaixo na Biblioteca? eu quero dar uma olhada nos livros e na cena do crime"
"Tudo bem Luc, depois que terminar de ouvir sugiro que desca rápido pelos meios não convencionais, tem outras pessoas nessa sala que provavelmente vão correndo pra lá, e talvez a cena possa ja ter sido comprometida"

Erin distraiu-se olhando um pequeno quadro do mercado de Londres do século XIX. Podia ver as pequenas barraquinhas que vendiam chá, muitos delas provenientes da China, certamente. Jaja estava falando com ela, não havia mais como escapar de falar sobre suas suspeitas, sobre o que aconteceu poucos anos atrás.

- Bem, eu não acho que quem tenha feita isso seja humano. Teria que ter sido algum humano muito forte, ou vários, e que talvez lidasse com algum tipo de magia muito poderosa para conseguir passar por isso tudo despercebido e ainda arrombar a Jaula. Mas o que eu estava lembrando agora, Jaja, é de uma viagem que fiz cinco anos atrás, logo após ter me formado na faculdade.

Eu queria ir para um lugar exótico, então decidi ir para a China com um amigo. Resumindo, fomos lá para aprender a língua deles e ficamos em Beijing. Um ano depois nós dois fomos com alguns amigos visitar cidades do interior. Estávamos nos hospedando em pequenos vilarejos, e foi em um deles que notamos uma certa “aura” estranha no lugar. Os moradores estavam assustados e nos contaram que dois habitantes haviam sumido misteriosamente na noite anterior. Eles falavam que um tal de “Chiang-Shih”, que diziam ser algum tipo de cadáver que se alimenta do sangue do vivos. Obviamente ninguém do nosso grupo acreditou naquilo, simplesmente continuamos nossa viagem. Quando a mesma história se repetiu nas próximas cidades, começamos a ficar realmente com medo, eu ao menos podia ver na mente daquelas pessoas que elas realmente acreditavam naquelas lendas.

Resolvemos encerrar nossa excursão, porém o caminho de volta era longo e tivemos que novamente nos hospedar em pequenas vilas. Foi então que numa noite meu amigo desapareceu, simplesmente desapareceu. Fiquei arrasada. Voltei para Beijing e lá recebi uma ligação dizendo que minha irmã estava muito doente. Tive de voltar imediatamente para a Suíça. Até hoje não sei com certeza o que aconteceu com ele, pois nunca encontraram nenhum corpo.

Nos anos seguintes fiquei absolutamente obcecada por essas criaturas, e resolvi eu mesma pesquisar sobre elas, embora não houvesse muita informação disponível e eu não tivesse coragem de voltar para o Oriente por enquanto. Foi por essa época que a Talamasca me contatou e eu me mudei para a Holanda.

Nas minhas pesquisas dentro da Ordem, descobri que os Chiang-Shih eram criaturas muito pouco estudadas, quase não encontrei nada nos arquivos. Porém em meus estudos consegui descobrir que apesar de eles serem extremamente poderosos, a maioria deles não chega a ser tão forte quanto os vampiros milenares daqui, os vampiros ocidentais. Também descobri que por alguma razão têm aumentado os relatos de vampiros de “olhos grandes” no Oriente. Sobre a extensão dos poderes dos Chiang-Shih, há muita pouca informação disponível. Pode até ser que tenham ligações com espíritos, pois diz que a lenda que além de sangue, alguns também são capazes de sugar almas.

Semana passada descobri sobre o tal do Dossiê do Anciãos, e achei que talvez pudesse encontrar mais informações sobre os Chiang-Shih. Planejava vir para Londres de qualquer maneira, assim que conseguisse permissão para mexer nos Dossiês.

A conclusão que cheguei é que talvez essas criaturas orientais estejam se sentindo ameaçadas pelos vampiros daqui, e agora estejam procurando um meio de derrotá-los, por isso talvez tenham roubado documentos oficias da Talamasca sobre vampiros, na esperança de descobrir algum segredo que possa ajudá-los em seus objetivos.

Mas enfim, foi apenas uma ideia louca que me ocorreu agora e provavelmente tudo o que eu disse não tem nada a ver com o aconteceu esta noite. Pode até ser que tenha sido algum vampiro daqui que tenha esperanças de apagar todas as informações da Talamasca sobre a sua raça.

Mas sabe, a maneira como esses vampiros do Oriente se alimentam é muito mais violenta que as histórias de vampiros que ouvi por aqui. Por acaso ocorreu algum assassinato muito grotesco nesses últimos dias? Sabe, só pra saber...

Todos ficaram estupefatos e trocando olhares bem assustados.

Michael quebrou o silêncio:

- Eu sei quem seres são esses.

Dessa vez ele é quem virou o centro das atenções.

- E seria bem melhor que não fossem eles os ladrões.

Michael os descreveu de tal maneira:

. Altos
. Vermelhos
. Orelhas pontudas
. Pernas de bode
. E com poderes que variam para cada ser da sua espécie.

E continuou

- Não sei como podemos acha-los, normalmente andam sozinhos e dormem todos em um mesmo território. Não sabemos muita coisa sobre os poderes desses Chiang-Shih e muito menos onde eles estão.

E afinal Michael soltou a bomba:

- Sr. Cumberbatch, sinto lhe dizer, mas os vampiros correm bastante perigo.

Falou dessa vez bem baixinho e cabisbaixo:

- Estamos em desvantagem e sem tempo.

Sofia não acreditava naquela história e estava cansada de tanta falação; e a idéia de sátiros superdesenvolvidos terem invadido a Jaula e roubado o Dossiê parecia improvável. Seria necessário cuidado, silêncio, imperceptividade. Pra ela era muito mais simples que isso, iria trabalhar com outras hipóteses. A de que os sumiços e acontecimentos anormais não tivessem tanta relação assim. E iria investigar a cena do crime agora! E lhe pareceu mais do que obvil que deveria levar alguem com o poder de sentir a história dos objetos. E vejam só, já tinha uma candidata a isso. Amélia.

Sim, vamos. Não acredito nessa teoria. E tenho que fazer contatos.... ilegais.

- Bem, gostando ou não Sr. Superior Geral eu e Amélia vamos trabalhar com outra hipótese e preciso de duas permissões.... A primeira é para ir aos niveis inferiores antes que mais alguém tenha a oportunidade de comprometer a situação original. E sim, sou muito desconfiada de todos, você aprende isso quando lida com espiritos e vampiros por muito tempo. E também quando se faz parte de uma Ordem que é capaz de se auto-destruir para não revelar seus segredos. E a outra permissão... é para contato direto com o sobrenatural. Contato irrestrito e por todos os meios.
- Você me pede demais... Preciso pensar na sua segurança, na segurança de todos aqui.

Sentiu o olhar condenante dos outros. Eles realmente acreditavam que esse era o caminho a seguir, e precisavam que elas estivessem junto. Mas não, seu instinto dizia que a solução quase sempre era a mais simples.... Estava de cabeça baixa falando com sua calma. Levantou a cabeça e sorriu, queria que soubessem que o problema não era com ele e suas idéias. Era ela, teimosa e forte feito uma geleira. Apenas.

- A segurança da Ordem é mais importante. Nós temos uma missão, que é a de observar, registrar, ajudar o sobrenatural em sua relação com o mundo dos humanos.
- Sim.... Às vezes esquecemos qual o nosso verdadeiro propósito. Pois vá. Podem ir. Mas quero relatórios de tudo, inclusive do que você talvez ache que não vai me agradar....

As mulheres sairam da sala, Sofia estava calma, ainda que superficialmente. Não era nem o sumiço do dossiê que a preocupava, era mais a possibilidade de quem poderia encontrar durante essa aventura. Então elas sentiram, sentiram que alguém observava, que as seguia...